Césio-137

O césio-137 é um isótopo radioativo de césio. Em 1987, ocorreu o maior acidente nuclear do Brasil com o composto.

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O que é o césio-137? 

O césio-137 é um isótopo radioativo do césio obtido por meio da reação de fissão do urânio ou então do plutônio. O decaimento do césio-137 a bário-137 libera radiação gama que possui um grande poder de penetração e por isso, é extremamente nocivo à saúde humana.

O átomo de césio é um metal alcalino com número atômico de 55, no entanto,  possui 40 isótopos conhecidos, tornando-se junto com o mercúrio e o bário um dos elementos com mais isótopos. Por conta dessa variedade de isótopos, o número de massa pode variar entre 112 a 151

Dentre os isótopos, o mais estável é o césio-133 que ocorre naturalmente, já os demais são instáveis ou radioativos. 

Como o césio-137 é obtido? 

O processo de obtenção do césio-137 acontece por meio da reação de fissão nuclear de radionuclídeos pesados que pode acontecer de modo espontâneo ou induzido. Alguns desses radionuclídeos são urânio-233, urânio-235 e também o plutônio-239. Mesmo havendo a possibilidade da ocorrência da reação de modo espontâneo, devido à alta energia de ativação necessária, o mais comum é a reação de modo induzido. 

Nessa reação de fissão o que acontece é o bombardeamento do núcleo do urânio-235 com um nêutron que proporciona a formação de um isótopo instável de urânio-236. Esse átomo instável sofre o processo de fissão e assim, gera um radionuclídeo de massa 137 que pode ser tanto de bário ou de césio.

01n + 92235U → 92236U → 55137Cs + 3799Rb + 3 01n + energia 

O césio-137 libera radiação gama ao sofrer decaimento a bário-137. O tempo de meia-vida do césio-137 é de 30 minutos. De início, o radionuclídeo sofre um decaimento beta (β) que gera um isótopo instável do bário-137 em que o tempo de meia-vida é de apenas 2,6 minutos. Desse modo, para o bário-137 se estabilizar, ocorre a emissão de radiação gama com uma alta energia sendo penetrante e por isso, nocivo ao corpo humano. 

55137Cs → 56137Ba(instável) + -10β

56137Ba(instável)56137Ba + 00γ

Quais as principais aplicações? 

Uma das principais aplicações do césio-137 é a sua utilização como fonte de raios gama que podem ser utilizados para diferentes finalidades como por exemplo: radioterapia para tratamento de câncer em seres humanos; esterilização de equipamentos industriais e até mesmo para auxiliar na preservação de alguns alimentos. 

O que foi o caso césio-137 no Brasil? 

O caso césio-137 foi o maior acidente nuclear ocorrido no Brasil. O acidente aconteceu em Goiânia no ano de 1987 e deixou centenas de vítimas que foram contaminadas pela radiação. 

O acidente se iniciou quando dois catadores de lixo ao vasculharem as antigas instalações do Instituto Goiano de Radioterapia, localizado no centro de Goiânia, encontraram um aparelho de radioterapia abandonado e optaram por removê-lo do local, levando-o até a casa de um deles. 

Devido a falta de conhecimento, eles estavam visando o lucro com a venda das partes da máquina constituídas por chumbo e outros metais para ferros-velhos. Assim que retiraram as peças que eram de seu interesse, eles venderam o que restou para o proprietário de um ferro-velho, Devair Alves Ferreira. 

Ao desmontar a máquina, Devair expôs o ambiente a cloreto de césio-137 (CsCl) que é um composto sólido branco que se parece com sal de cozinha, no entanto, no escuro, apresenta um brilho de cor azul. 

Com a exibição do brilho azul, ele resolveu mostrar o composto para seus amigos, familiares e vizinhos. Pela falta de informação, as pessoas acreditavam estar diante de algo sobrenatural e levaram amostras do composto para outros locais e com isso, a área de risco aumentou. 

Quais foram as consequências do acidente com césio-137?

Apenas poucas horas após o contato com a substância, algumas pessoas começaram a apresentar sintomas leves de contaminação como por exemplo, vômitos, náuseas, diarreia e também tonturas. Com a incidência da contaminação, os hospitais e também as farmácias  locais começaram a receber um grande número de pessoas com os mesmos sintomas que acabaram sendo tratadas e medicadas como portadores de uma doença contagiosa.

símbolo_radioatividade

A identificação dos casos como sendo referentes à uma contaminação radioativa demorou cerca de duas semanas e só foi possível após a esposa do dono do ferro-velho ter levado à Vigilância Sanitária parte da máquina de radioterapia. 

Por meio de uma análise minuciosa e acompanhada pelo físico Walter Mendes verificou-se a presença de radiação na Rua 57 e nas regiões no seu entorno e por isso, a Comissão Nacional Nuclear (CNEN) foi acionada imediatamente. 

Além disso, a situação foi levada para o chefe do Departamento de Instalações Nucleares, que reforçou a equipe com um médico da Nuclebrás (atualmente, Indústrias Nucleares do Brasil) e também um médico do CNEN. Foi a partir desse momento, que a Secretaria de Saúde do estado iniciou a triagem dos contaminados em um estádio de futebol de Goiânia. 

O que foi feito após a identificação do acidente? 

Diante da identificação da situação de modo efetivo, as medidas tomadas buscaram finalizar a identificação e monitorar as áreas afetadas, assim como descontaminar, isolar e tratar a população atingida pela situação. 

As principais áreas afetadas foram isoladas e quantidades de solo e de construções foram removidas, sendo realizado também  um acompanhamento para monitorar a dispersão da radioatividade no ambiente como um todo, como solo, água e ar. 

Esse processo de descontaminação gerou um lixo radioativo de cerca de 600 toneladas e atualmente, esse lixo está confinado em caixas, tambores e contêineres que são revestidos de concreto e aço em um depósito e deverá permanecer isolado por 600 anos. 

Em relação às vítimas, a primeira medida tomada foi a separação das roupas das pessoas expostas ao material radioativo para descontaminação externa e a administração de um tratamento medicamentoso com um quelante chamado de “azul da Prússia”. O azul da Prússia corresponde ao ferrocianeto de potássio K4[Fe(CN)6] que atua para eliminar o césio do organismo pelas fezes e urina impedindo a sua absorção. 

Infelizmente, quatro pessoas faleceram diretamente pela contaminação, sendo elas: Devair, sua esposa, Maria Gabriela, a sobrinha de Devair que tinha seis anos, Leide das Neves e seu pai, Ivo. 

As investigações oficiais consideram que cerca de 250 pessoas tiveram uma contaminação significativa, enquanto 20 pessoas tiveram contaminação grave e por isso, posteriormente, morreram mais vítimas dessa contaminação com material radioativo. Acredita-se que, ao menos, 66 óbitos estejam relacionados ao evento, entre eles, de funcionários que realizaram a limpeza do local contaminado. 

No ano de 1996, a Justiça condenou três sócios e funcionários do Instituto Goiano de Radioterapia por homicídio culposo (sem intenção de matar) a três anos e dois meses de prisão. 

As pessoas contaminadas são monitoradas até os dias de hoje e necessitam de tratamentos e medicamentos devido às sequelas causadas 

Qual o impacto do césio-137 no organismo? 

O processo de desintegração do césio-137 provoca a liberação de raios gama que são capazes de interagir com os componentes do corpo e assim, ionizam as moléculas presentes no organismo. Essa absorção de raios gama depende da quantidade em que o corpo humano é exposto a fonte radioativa e também do nível de proteção desse radioisótopo. 

No entanto, a exposição para inalação, contato com a pele ou ingestão do césio-137 acaba sendo mais grave, uma vez que, é absorvido mais fortemente pelo organismo e assim, se faz necessário analisar qual o órgão sofreu mais com a absorção e o quanto foi absorvido. 

Entre os sintomas mais comuns de contaminação radioativa estão náuseas, vômitos, tonturas, diarreia, queimaduras e até a morte. 

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Aryanne Viana

Fundadora do Blog VaiQuímica!

Fundadora e Professora do VaiQuímica!, Bacharela em Química pela USP com ênfase em Alimentos e Mestranda em Físico-Química.