O que é a eletrólise?
A eletrólise é um processo físico-químico provocado pela passagem de corrente elétrica em um sistema, ou seja, a reação química ocorre devido a utilização de uma fonte de eletricidade como pilhas ou baterias, por exemplo. Como a reação necessita de uma fonte externa de energia, a reação é de oxirredução não-espontânea e provoca a formação de substâncias simples ou compostas.
De modo geral, a eletrólise pode ser definida como um ramo da Eletroquímica que estuda a transformação da energia elétrica em energia química, sendo um processo que pode ser considerado o inverso do processo que ocorre nas pilhas.
Como funciona o processo de eletrólise?
Para a ocorrência da eletrólise é necessário o uso de um gerador de corrente contínua em que a energia elétrica passa por um líquido contendo íons conhecido como eletrólito.
Considere, por exemplo, o uso de cloreto de sódio sólido dentro do recipiente. A utilização do NaCl sólido não permite a passagem de corrente elétrica, uma vez que, o sal sólido não possui íons livres. Desse modo, para provocar a passagem de corrente elétrica é preciso formar os íons Na+ e Cl– e isso pode ser obtido com a fusão do sal ou então, adicionando-se água para dissolvê-lo e assim dissociar os íons, permitindo a movimentação das espécies químicas.
Além disso, imersos no eletrólito são colocados dois eletrodos que costumam ser inertes (como os feitos de platina ou de grafita, por exemplo) sendo um o cátodo (polo negativo), enquanto o outro é o ânodo (polo positivo). Além da presença do eletrólito e dos eletrodos, há também uma cela eletrolítica (também conhecida como células ou cubas eletrolíticas) que é o recipiente em que são colocados os outros componentes do sistema.
Conhecendo a composição sistêmica para a ocorrência da eletrólise, temos que o processo ocorre da seguinte maneira: assim que o gerador é ligado, os elétrons acabam sendo transportados do gerador pelo polo positivo do sistema, entrando na célula eletrolítica pelo cátodo. É no cátodo que acontece a reação de redução, ou seja, em que a espécie química recebe os elétrons.
Cátodo (polo negativo): reação de redução
Xy+ + ye– → X
Sendo assim, os elétrons saem do ânodo, onde acontece a reação de oxidação, ou seja, a perda de elétrons e chegam no gerador pelo polo negativo (cátodo).
Ânodo (polo positivo): reação de oxidação
Zw- → Z + we–
Quais são os tipos de eletrólise?
Há dois tipos de eletrólise que se diferenciam pelo eletrólito utilizado: a eletrólise ígnea e a eletrólise aquosa.
Eletrólise ígnea
O processo de eletrólise ígnea acontece ao realizar a passagem de corrente elétrica através de um composto iônico fundido. Sendo assim, não há água presente no sistema.
Considerando o processo utilizando-se NaCl fundido, temos que os íons Na+ migram para o polo positivo e são reduzidos a Na. Já os íons Cl– migram para o polo positivo e são oxidados à Cl2. Macroscopicamente, observa-se o seguinte comportamento:
- No polo positivo, onde ocorre a reação de oxidação, obtêm-se a formação de bolhas de um gás de cor amarelo-esverdeado e que apresenta um cheiro forte;
- Já no polo negativo, onde acontece a redução, há a formação de um metal de cor cinza que reage de forma violenta com a água.
Semirreação do polo positivo (ânodo): 2 Cl–(l)→ Cl2(g) + 2e–
Semirreação do polo negativo (cátodo): 2Na+(l) + 2e– → Nao(s)
Reação global: 2 Na+(l) + 2Cl–(l) → Nao(s) + Cl2(g)
O gás formado corresponde ao cloro (Cl2), enquanto, o metal cinza é o sódio (Nao). Sendo assim, durante a reação de eletrólise, a passagem de energia elétrica provoca a transformação dos íons Cl– em Cl2 e os íons Na+ em sódio metálico (Nao). O que acontece é a doação de elétrons pelos íons Cl– por meio do circuito metálico para os íons Na+. Como a eletrólise é um processo de oxirredução, os elétrons perdidos no polo positivo são iguais aos elétrons recebidos no polo negativo.
Eletrólise aquosa
A eletrólise aquosa é a reação química que é provocada pela passagem de corrente elétrica através de uma solução aquosa de um eletrólito. Desse modo, antes de utilizar a substância como eletrólito, provoca-se a sua dissociação na água:
XY (s) + H2O → X+ (aq) + Y– (aq)
A principal diferença da eletrólise aquosa para a eletrólise ígnea é a presença dos íons H+ e o OH–. Isso porque além dos íons provenientes da dissociação do eletrólito, também temos os íons provenientes da autoionização da água.
H2O (l) → H+ (aq) + OH– (aq)
Em uma eletrólise aquosa, os íons H+ que são provenientes da água irão competir com os cátions provenientes da substância dissolvida (eletrólito), enquanto os íons OH– competirão com os ânions gerados no sistema.
Considerando a descarga dos íons provenientes da água, ou seja, a perda de carga elétrica que favorece a transformação das espécies em espécies eletricamente neutras, temos:
Descarga dos íons H+ no cátodo: 2H+ (aq) + 2e– → H2 (g)
Descarga dos íons OH– no ânodo: 2OH– (aq) → ½ O2 (g) + H2O (l) + 2e–
No entanto, para conseguirmos determinar qual o ânion e o cátion que irá reagir no ânodo e no cátodo, respectivamente, precisamos conhecer a fila da facilidade de descarga de íons.
Em relação aos cátions:
Au> Pt> Hg> Cu> Ni> Cd> Pb> Fe> Zn> Mn> H+> família IIIA> família IIA> família IA
O que temos é que os cátions de alcalinos, alcalino terrosos e de alumínio apresentam menor tendência de descarga do que o H+, enquanto os demais íons apresentam uma tendência maior.
Já em relação aos ânions:
Ânions não oxigenados em geral e o HSO4–> OH–> ânions oxigenados e o fluoreto (F–)
Conhecendo essas tendências é possível determinar quando a fonte de energia elétrica é ligada qual o cátion irá de deslocar para o cátodo e qual dos íons se deslocará para o ânodo.
Sendo assim, considerando a eletrólise utilizando-se uma solução de NaCl, temos que ao dissolver o NaCl em água, a dissociação acontece da seguinte maneira:
NaCl (s) + H2O (l) → Na+ (aq) + Cl– (aq)
Além disso, acontece concomitantemente a autoionização da água:
H2O (l) → H+ (aq) + OH– (aq)
Logo, nesse sistema, há a presença dos cátions Na+ e H+ e dos ânions Cl– e OH–.
Desse modo, no cátodo, os cátions H+ recebem a descarga e assim, recebem os elétrons devido a reação de redução e transformam-se em H2 (gás) que é uma substância estável. A prioridade para a descarga acontecer no cátion H+ vem da fila de facilidade de descarga de íons devido ao cátion Na+ ser pertencente a família IA.
Cátodo: 2H+ (aq) + 2e– → H2 (g)
Já no ânodo, os ânions de cloreto (Cl–) irão sofrer a reação de oxidação, ou seja, perderão os elétrons e formarão outra substância estável, o gás Cl2. Como o Cl– não é um ânion oxigenado, ele tem prioridade de descarga em relação ao OH–.
Ânodo: 2Cl– (aq) → Cl2 (g) + 2e–
Desse modo, na eletrólise aquosa de NaCl se formarão o gás hidrogênio e o gás cloro.
Leis da eletrólise
As Leis da Eletrólise são duas leis que foram desenvolvidas pelo físico e químico Michael de Faraday e são utilizadas para a determinação de aspectos quantitativos do processo.
A primeira Lei pode ser enunciada da seguinte maneira:
“A massa de um elemento que é depositado durante o processo de eletrólise é diretamente proporcional à quantidade de eletricidade fornecida ao sistema.”
Matematicamente, essa definição pôde ser descrita da seguinte forma:
Q = i x t
Onde Q é a carga elétrica do sistema (C), enquanto i corresponde a intensidade da corrente elétrica (A) e t corresponde ao tempo da passagem da corrente elétrica (s).
Desse modo, essa primeira lei indica que se a carga elétrica que atravessa a solução for duplicada, a massa da substância também será.
A segunda Lei corresponde ao seguinte enunciado:
“As massas de vários elementos, quando depositados durante a eletrólise pela mesma quantidade de eletricidade são diretamente proporcionais aos seus equivalentes químicos.”
Isso significa que para uma mesma quantidade de carga elétrica, as massas das substâncias que sofreram o processo em qualquer eletrodo são proporcionais aos seus equivalentes químicos.
Matematicamente:
M = K x E
Em que M corresponde a massa da substância, K é a constante de proporcionalidade e E é o equivalente-grama da substância.
Como funciona a eletrólise da água?
Como mencionado anteriormente, as moléculas de água são capazes de sofrer um processo de autoionização. No entanto, como eletrólito, a água não tem a força necessária para conduzir corrente elétrica, pois não há a geração de íons suficiente para isso e que permita que eles descarregam-se continuamente.
Assim, para conseguir realizar a eletrólise da água é preciso adicionar um eletrólito que seja solúvel e que gerem íons mais reativos que os íons H+e OH–. Conhecendo a fila de descarga dos íons, conseguimos escolher o eletrólito que permita a descarga dos íons da água e assim, a eletrólise da água ocorre.
Quais são as aplicações da eletrólise?
Além da produção de alguns compostos de importância comercial como o gás cloro e hidrogênio, a eletrólise pode ser utilizada na técnica de revestimento de uma peça metálica por outro metal. Essa técnica é conhecida como eletrodeposição metálica ou galvanoplastia.
É possível por meio dessa técnica tornar uma peça metálica mais brilhante, mais valiosa e até mesmo mais resistente à corrosão.
Também consegue-se aumentar a pureza de alguns metais por meio desse processo, como é o caso do cobre que é destinado a fiações elétricas.